A Pandemia do coronavirus interferiu no nosso cotidiano. Passados mais de 2 anos a cobertura vacinal possibilitou a sociedade o retorno a sua “normalidade” com os devidos cuidados.
Com a 4ª dose disponível é hora de ocuparmos, com os devidos cuidados, plenamente as ruas, os corredores, as cantinas, os auditórios, os laboratórios e, principalmente as salas de aulas da UFAL.
A Resolução nº 52/2022-CONSUNI/UFAL Art. 2° preconiza que "as atividades acadêmicas e administrativas serão regularmente realizadas nos semestres 2022.1 e 2022.2, mantendo-se seu formato presencial, ficando suspensas as situações de excepcionalidades estabelecidas, em decorrência da pandemia da COVID-19, pela Resolução Nº 05/2022-CONSUNI/UFAL, de 15 de fevereiro de 2022." Finalmente vamos poder nos encontrar presencialmente e voltar a dar vida as salas de aulas, prédios, praças, laboratórios da maior instituição pública do Estado de Alagoas.
Os corredores e as salas de aulas clamam pela nossa presença; os corredores desejam ouvir nossas vozes e risadas; almejamos pelos debates presenciais no CONSUNI, o entre e sai da biblioteca, a paquera na fila do RU, a galera na pracinha do amor; a UFAL quer ver novamente os transeuntes utilizando suas ruas para se deslocarem até suas residências porque passando pelo A.C. Simões se sentem mais seguros; os espaços de convivência nos convidam para os encontros na hora do almoço nas cantinas do CIC, CEDU, FAMED, CETEC, ICBS, ICHCA, no CECA, aquele lanche entre uma aula e outra nos campi do Sertão e Arapiraca para colocar aquele papo em dia.
INDICADORES SOBRE O ENSINO REMOTO APONTAM MEDIANA e BAIXA QUALIDADE!
Partindo do
parâmetro que os indicadores de qualidade* de uma instituição consolidada como a
UFAL devem ser BONS e/ou ÓTIMOS, analisando os indicadores de avaliação do
semestre 2020.1 divulgados pela CPA-UFAL (veja aqui), chegamos à conclusão que o ensino
remoto não é o nosso parâmetro, tampouco nossa meta. Destaco alguns indicadores:
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67%
dos estudantes classificam o nível de aprendizado entre regular e ruim, ou
seja, mais de 50%, enquanto 32% classificam como Bom e Ótimo.
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Já
para os professores 73,7% consideram o nível de aprendizado entre regular e
ruim enquanto, apenas 26,3% consideram BOM ou ÓTIMO.
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Para
40% dos professores o semestre 2020.1 foi BOM ou ÓTIMO, enquanto 60% consideram
REGULAR/RUIM ou PÉSSIMO.
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Outro
indicador que chama a atenção: a maioria dos estudantes assiste
aula pelo celular. Esse dado revela que as condições para estabelecer um ensino
com qualidade pelo ensino remoto/EAD não estão dadas. Imaginemos os professores
ministrando suas aulas pelo celular, digitando os seus artigos pelo celular e elaborando seus projetos pelo celular. Não dá né?!
A precarização
do trabalho docente, também, é apontada no modelo remoto. A UFAL não garantiu
as condições de trabalho para o desenvolvimento do ensino remoto. As 4 maiores
dificuldades que limitaram o trabalho dos professores foram (em ordem): Instabilidade
da conexão da internet, ausência de espaço/mobiliário adequado, dificuldades para
conciliar atividades domésticas e trabalho e computador ou notebook com baixo
desempenho.
Por último,
outro indicador que deve ser considerado e que reforça a necessidade de
retomarmos por completo as aulas presenciais é o dado sobre o ESTADO
EMOCIONAL DOS ESTUDANTES. Embora observemos uma leve melhora nos indicadores
BOM e ÓTIMO na evolução da percepção dos estudantes entre os 3 semestres de
2020.1 a 2021.2, os indicadores apontam que mais de 65% dos estudantes
consideraram o seu estado emocional entre regular e ruim o que, por certo, afetou a qualidade do aprendizado.
A experiência do ensino remoto foi a medida paliativa que adotamos para, nos limites da pandemia, continuarmos com o nosso compromisso com a educação pública. Diversos aprendizados e outras possibilidades foram encontradas durante essa experiência. Mas, está dado que o ensino remoto não é, nem de longe no Brasil, o parâmetro para a qualidade de uma educação compromissada com, no mínimo, uma BOA formação integral dos estudantes.
O contexto social onde mais de 70% dos estudantes das universidades federais são de famílias em vulnerabilidade social (Andifes, 2019); os cortes orçamentários nas universidades que ao longo dos últimos 5 anos representam cerca de 96% comparado ao que era destinado em recursos públicos antes de 2017; as consequências desse brutal corte como a precarização do nosso trabalho e dos estudos dos alunos; o uso do ensino remoto ou da EAD para o ensino presencial, pelos intelectuais do modelo da gestão “empresarial”, como parâmetros de “eficiência” - fazer MAIS com MENOS - para normalizar e justificar o desfinanciamento do ensino superior e a transferência dos recursos da universidade pública para o setor privado ratificam que é HORA DE RETORNARMOS PLENAMENTE PARA AS NOSSAS ATIVIDADES PRESENCIAIS, com os devidos cuidados.
Retomar, portanto, plenamente as atividades presenciais da UFAL nesse momento não é apenas uma questão de bom senso, mas de compromisso com a BOA qualidade da Universidade Pública e de resistências às tentativas do esvaziamento dos espaços físicos e do seu desmonte!
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* Tomo como referências de BOA formação ou educação de qualidade as discussões realizadas por Adms, Rubens Camargo, Romulado Oliveira e Gilda Araújo entre outros.
-------------Tiago Zurck - Possui Graduação-Licenciatura em História pela Universidade
Federal de Alagoas (2004). Mestre em Educação Brasileira pela Universidade
Federal de Alagoas e Doutor em Educação pela UFPE (Universidade Federal de
Pernambuco), com ênfase em Política Educacional, planejamento e gestão da
educação. Tem experiência na área de Educação atuando nos seguintes temas:
Políticas da educação (Gestão da Educação e escolar; planejamento educacional,
mecanismos de controle social e participação na educação). Atualmente faz parte
do grupo de pesquisa Gestão e Avaliação Educacional/UFAL. É professor adjunto
na referida Universidade no setor de Política e Gestão da Educação e leciona as
disciplinas de Política e Organização da Educação Básica; Projeto Pedagógico,
Organização e Gestão do Trabalho Escolar. Coordenou a Escola de Gestores em
Alagoas - lato sensu - (MEC/SEB/UFAL). Foi membro do Comitê Estadual de
Avaliação do Prêmio Estadual de Gestão Escolar em Alagoas. Foi conselheiro -
Representante Docente no CONSUNI - UFAL (2012 -2016); foi membro do Fórum
Estadual Permanente de Educação do Estado de Alagoas (Fepeal); foi diretor do
ANDES-SN; exerceu os cargos de Procurador Educacional Institucional (2016-2017)
e assessor no gabinete reitoral (2017 – 2019). Integrou a coordenação do
primeiro Recredenciamento da UFAL junto ao MEC cujo resultado foi a obtenção do
conceito 4 pela UFAL; também, diversas comissões de acompanhamento dos
Protocolo de Compromisso nas avaliações de cursos da UFAL junto ao INEP;
também, compôs a comissão de formulação do Plano de Desenvolvimento
Institucional da UFAL (2019-2023).
