Pular para o conteúdo principal

Que UFAL queremos? definitivamente não é a universidade “coaching”


Se considerarmos que a direita não é um movimento unitário, mas uma coalização de forças com diferentes frentes e aspectos comuns, não é esdruxulo afirmar que o projeto de desmonte da universidade de formação integral que conhecemos e defendemos hoje é confrontado, por um lado pelo projeto bolsonarista no poder de caráter populista autoritário e neoconservador e, por outro pelos neoliberais de plantão, "empresários da educação" e porque não dizer, uma classe média de gerentes e "profissionais qualificados pró-mercado"  que vêm a educação como um serviço competitivo e, portanto, o que é e vem do setor público é ruim e o que é e vem do privado é bom!

O “DESMANCHO” PAULATINO DAS UNIVERSIDADES a fim de justificar diante da sociedade a necessidade de transforma-las em instituições de educação nos moldes e a serviço do mercado é, portanto, UM PROJETO; POR ISSO É PRECISO DENUNCIÁ-LO, SE CONTRAPOR E RESISTIR A ELE!

Sem espanto de minha parte, como se não bastasse o cenário atual da educação, a gestão da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) vem, em parte, corroborando com este projeto. E antes de explicar, é preciso ratificar o óbvio: Escrevo esse texto ancorado em uma visão diferente de universidade daquela que é defendida pelos reformistas empresarias da educação e o bolsonarismo populista autoritário.  Explico:

Desde que as aulas remotas voltaram têm sido promovidas aulas inaugurais no modismo do momento: ao estilo coaching (treinamento em português) do tipo: “estudantes busquem a sua estrela”.

Em 2021.1 tivemos a oportunidade de assistir a aula “Voz e comunicação como ferramenta de sucesso”. Na aula inaugural do semestre 2021.2 cujo tema “O que motiva o universitário”, o palestrante, a convite da gestão dentre as diversas “mensagens” expressas por ele, afirmou:  “AULAS TEÓRICAS SÓ LEVAM AO SONO, À DESMOTIVAÇÃO, À INDIFERENÇA E, DEPOIS, À EVASÃO”.  

Alguém pode dizer que a gestão não é responsável pelo que o palestrante vai falar já que ela não teria conhecimento prévio de sua palestra - e nem deve! É preciso preservar e respeitar a liberdade de cátedra - Verdade! Mas, quando convidamos alguém para participar de uma banca, de uma palestra, um seminário o convidamos porquê, de certa forma, determinada pessoa tem relação direta com os fundamentos conceituais que defendemos.

Ainda, durante a pandemia, foi implementada na UFAL a oferta de cursos de licenciaturas que reflete a “nova” perspectiva de formação do ensino médio e de formação de professor defendida pelo projeto de educação bolsonarista e dos “reformistas empresariais” de plantão. Não por acaso, o trecho destacado da fala do palestrante se coaduna com estes “novos” cursos de formação em implantação na UFAL.

Os 3 Colegiados dos cursos de Pedagogia da UFAL rejeitaram a proposta, diversas universidades federais, também, rejeitam a imposição do MEC para reformulação de projetos pedagógicos dos cursos de licenciatura e, entidades nacionais repudiam o projeto de formação sem base sólida teórico-prática como a ANPED, ANFOPE, SBPC, o COGRAD-ANDIFES entre outras.

De um lado estão os neoconservadores e populistas autoritários que propalam a universidade como espaço de plantação de maconha; disseminação da doutrinação da "ideologia (?) de gênero e LGBT, do ateísmo entre outras "demonização" atribuídas e que, portanto, segundo eles, é necessária uma reforma nas universidades a fim de um retorno à disciplina, aos conhecimentos tradicionais, com a exclusão de cursos de Filosofia e Ciências Sociais, por exemplo, pois para nada servem a não ser desvirtuar a juventude. 

No outro lado, mas parte desse projeto de desmonte, estão os  “REFORMISTAS EMPRESARIAIS” QUE, TAMBÉM, CRITICAM OS CURSOS UNIVERSITÁRIOS QUE TÊM UMA MATRIZ CURRICULAR TEÓRICO-PRÁTICA de formação integral do estudante. Partem do pressuposto que o estado “gasta muito” com cursos que podem ter um curto período de formação, portanto, de formação mais “pragmática” para o “bom padrão de qualidade” e “excelência, reduzindo assim os “gastos” públicos. Tais pressuposto, óbvio, estão ancorados na visão de educação que tem como função dispor uma formação técnica, social e ideológica que habilite os indivíduos para o “mercado de trabalho” e não uma FORMAÇÃO INTERGAL para o “mundo do trabalho”. 

Ambos grupos, embora de pontos de partidas diferentes, objetivam o mesmo ponto de chegada: o desmonte da universidade pública e consequente entrega dela ao setor privado: não é a toa que o setor privado, os grupos neoconservadores e empresarias da educação ocuparam espaços relevantes no CNE e no MEC neste último governo. 

Contrários a essa perspectiva de formação, estão os setores em defesa da gestão democrática da educação pública e o fortalecimento dos seus instrumentos e mecanismos de formação por meio de mais recursos; para estes setores a defesa de cursos que garantam formação integral dos estudantes,  fundamentados numa matriz curricular crítica é primordial. 

Segundo estes segmentos a unidade teoria-prática é fundamental no processo de formação, pois é através dela que “produzimos” a vida material e imaterial. Portanto, a relação teoria-prática possibilita aos estudantes compreender as ações empreendidas no processo do conhecimento das realidades que atuam, bem como permite formular de modo autônomo e consciente suas atuações para intervir e transformar suas realidades. Assim, a formação profissional, se ancora na plenitude de cada estudante com suas diversas necessidades biológicas, materiais, afetivas, estéticas etc e não, apenas numa formação técnica como as diversas frações da direita defendem.

Ao colocar falsamente o problema da evasão na matriz curricular dos cursos, nas disciplinas teóricas, o palestrante deixa de identificar junto aos estudantes que o real problema da evasão está na frágil política de assistência estudantil vilipendiada pelos cortes do governo; nas condições de estudos que cada vez mais se deterioram diante dos cortes orçamentários.

Ao implementar na UFAL o modelo de matriz curricular de formação de professores defendidos pelos "empresários da educação", de caráter "pragmático" e despreza uma matriz curricular que preserva a unidade teoria-prática, a universidade faz, paulatinamente a opção pela privatização indireta da educação superior pública, pois reduz a formação dos estudantes aos interesses do "mercado". 

Observem, portanto, que estas ações, ainda que pareçam distintas, estão interligadas e têm o mesmo ponto de chegada. 

A universidade deve se comprometer com a formação integral dos estudantes e lutar por ela. Nesse sentido deve formular espaços de debates que despertem no estudante o seu olhar autônomo e crítico diante dos desafios que afligem a sociedade não apenas individualmente, mas sobretudo, coletivos. 

Como o estudante poderá compreender o papel da universidade, a sua contribuição para o desenvolvimento da sociedade, a real situação da educação pública, os impactos dos cortes sucessivos no orçamento da educação superior e suas implicações na sua formação, os problemas coletivos que refletem em nossas convivências sociais  se são levados a pensarem e a enxergarem o outro e a sua realidade como “meros consumidores”? 

Não à toa que no Instagram oficial da UFAL que anunciou o tema da aula inaugural lemos diversos comentários corroborando com a “publicidade” de perseguição às universidades e aos servidores públicos promovidas pela direita, pelo bolsonarismo e os “reformistas empresariais da educação”.

O silenciamento da gestão diante da atual conjuntura, a promoção de uma “gestão  do tipo empresarial”  e “coaching”, a anuência aos projetos de cursos de formação defendidos tanto pelo bolsonarimo quanto pelos empresários da educação em nada fortalece a universidade pública, ao contrário, corrobora e cristaliza no senso comum posições favoráveis aos ataques, à perseguição promovida cotidianamente contra a universidade e os servidores públicos e consequentemente as "diversas formas" de privatização.  

É preciso conhecer a realidade de forma crítica para intervir nela, superar os obstáculos que afligem coletivamente a juventude  e reafirmar a importância da universidade pública brasileira e isso não se efetiva pela via de uma formação e de uma universidade "coaching". 

Este texto é um convite à reflexão. Também, um convite aos professores, técnicos-administrativos e estudantes que defendem uma UFAL compromissada com a formação integral da juventude!


Postagens mais visitadas deste blog

CONHEÇA A PROPOSTA DE CARREIRA DO ANDES-SN.

A proposta de carreira do ANDES-SN para os Docentes Federais foi aprovada em Congresso do ANDES. O Congresso acontece anualmente e é composto pela representação dos delegados das Seções Sindicais do ANDES-Sn. A ADUFAL tem direito a 11 delegados mais a representação da diretoria. Portanto, a proposta apresentada ao governo federal em 2023 não é da direção mas do Sindicato Nacional. É fundamental destacar que o REAJUSTE SALARIAL 2024/2025/2026 que está sendo reivindicado pelos SERVIDORES FEDERAIS não tem relação com a pauta da carreira docente federal, esta é uma pauta específica do setor da educação do ANDES e do SINASEFE. Também, não cabe ao Andes-SN apresentar valores orçamentários, mas, a partir do que foi aprovado em Congresso do ANDES-SN, o governo se manifestar, inclusive com valores, negociando com a categoria, como pode implantar a proposta, se não em 1 ano, mas, até. ao longo dos anos em termos percentuais, garantindo, assim, uma carreira sólida e com previsibilidade de aument...

O trabalho invisível e a falácia do “professor (federal) que não gosta de trabalhar”

A assimetria informacional é um dos maiores óbices para a tomada de decisões assertivas. E o julgamento popular, nada mais é do que decidir condenar moralmente uma categoria historicamente mal avaliada e subestimada pela sociedade brasileira. O problema da informação incompleta já começa pelo nome do cargo, Professor do Magistério Superior, como consta na Lei 12.772/2012 e suas posteriores alterações. * Nosso trabalho não é dar aula. É ensinar o que fazemos em nosso cotidiano. Ou seja,  pesquisa . Somos, para início de conversa, professores-pesquisadores ou cientistas-docentes, dividindo nosso tempo profissional entre laboratórios e salas de aula. A universidade pública é montada no tripé: Ensino, Pesquisa e Extensão, onde pelo menos todos nós estamos, no mínimo, em dois deles. Mas há outras funções, como ficará claro mais adiante. Antes uma breve nota sobre como é fazer doutorado no Brasil.   O árduo caminho para se chegar ao doutorado é longo. Depois de todo um curso de grad...

COMANDO DE GREVE DO ANDES: análise da proposta do governo

O CNG encaminhou às bases dos docentes em greve das universidades federais um comunicado com análise da proposta que o governo apresentou nesta quarta-feira (15/05). Até o dia 24, as bases do Andes-SN deverão realizar assembleias que devem deliberar pela aceitação ou rejeição da proposta do governo.  Alguns apontamentos do comunicado do ANDES-SN Não podemos deixar de enfatizar que o governo segue inflexível na sua proposta de reajuste zero para professores e professoras, na ativa ou já gozando de aposentadoria, no ano de 2024 No dia 13 de maio o CNG do ANDES-SN protocolou uma nova proposta para o governo, reivindicando o índice de 22,71% como horizonte de recomposição nos próximos três anos, pelo que propõe os seguintes índices de reajuste: 1) 7,06% de reajuste em 2024; 2) 9% de reajuste em janeiro de 2025; 3) 5,16% de reajuste em maio de 2026 A ‘recomposição’ anunciada de R$347 milhões, apesar de ser uma conquista do movimento paredista, é, na realidade, uma devolução de corte r...